VIII
Vazio
Sinto um vazio estranho. Um vazio que me ocupa o âmago.
A angústia. Voltou a angústia. A ansiedade.
O coração acelera. O estômago embrulha-se e desembrulha-se. O medo, o pavor
Não me consigo concentrar.
Shhh
Não faças barulho.
A minha cabeça parece uma panela de pressão. As ideias vão ao encontro umas das outras. Aguardam para entrar em ebulição.
Shhh
Não faças barulho.
Ai o choro
Apetece-me chorar. Típico! Quando entro em crise de angústia, o choro acompanha-me sempre.
Está preso
Que raiva! Chorar sem lágrimas cansa muito mais
É como se fossem saindo a ferros. Que nem os partos dos anos 80.
Shhh
Não faças barulho.
Ai
não vou conseguir adormecer
Este vazio preenche-me a cabeça. Acorda a minha insónia.
Shhh
Não faças barulho.
Deixa-me dormir.
Calei essas palavras,
Palavras
Duras,
Cruas,
Nuas
Calei essas palavras com amor.
Palavras que eram:
Duras de ouvir,
Cruas de sentir,
Nuas de calor.
Calei essas palavras com amor.
E agora que calei essas palavras,
Elas não gritam mais de dor!
Nós mulheres, somos realmente muito simpáticas umas para as outras
Ou não! Isso agora foi o que eu questionei na noite anterior
Uma coisa que eu reparei nestes últimos tempos é que nós, portadoras de um cromossoma X a mais do que os meninos, somos realmente seres demasiado estranhos! Eles também não jogam fácil mas nós conseguimos realmente complicar o que é simples!
Então a que é que eu me refiro? Simplesmente a cumprimentos de ocasião! Passo a explicar.
Quantas vezes não deram por vocês a dizer um simples olá guarnecido de um camuflado sorriso a alguém que apenas conhecem de vista? Montes de vezes não é? E quantas vezes esse alguém é outra mulher? Raríssimas vezes não?
O que se passa é o seguinte
Alguém que tenha por hábito frequentar assiduamente o mesmo local de entretenimento nocturno, mais tarde ou mais cedo acaba por reparar que à sua volta há um montão de caras que já se tornaram familiares pois como nós, também são clientes habituais do mesmo boteco. O que começa a acontecer é que os rapazes tentam-nos abordar ao fim de umas semanas de convivência espacial. Começam por nos mandar um sorriso acanhado na esperança que nós retribuamos. E nós, armadas em cromossoma X, só lá pró fim do 13º sorriso, é que retribuímos o sorriso que mais tarde evolui para um singelo olá e depois esse olá até vem acompanhado com dois beijinhos
Ou um no caso dos betos! Mas e o que é que acontece com as amigas desses amigos sociais? Que estão sempre lá, como nós, partilham a mesma casa de banho, falam com os nossos amigos que como nós lhes mandam os sorrisos na tentativa de lhes sacarem um olá mas, passam que por nós e olham-nos de alto a baixo sempre sem esboçar um sorriso? É isso mesmo que acontece
Nada! As gajas simplesmente não cedem! E aquela porcaria vira um autêntico festival do sorriso amarelo!! E contra mim falo! Às vezes dou comigo a tentar esboçar um sorriso ao cromossoma X mas nada! As gajas parecem de cera! E provavelmente eu muitas vezes me armo em cromossoma X e não baixo o sorriso amarelo por nada! Gajas!!
Conclusão, as gajas vão criticar as outras gajas, gajas essas que os nossos Cromossomas Y não vão perceber o que têm de mal porque elas até os cumprimentam e falam com eles e lhes dão dois beijinhos
Muito confuso? Nós vamos dizer que os outros cromossomas Y são super simpáticos e os nossos cromossomas Y não são assim. Os nossos cromossomas Y vão dizer que as outras cromossomas X são super divertidas e nada enjoadas como nós! As outras cromossomas X não vão perceber porque é que nós somos assim com elas e nós vamos achar que até somos simpáticas com elas e não percebemos porque é que elas não abrem mão do sorriso amarelo! Beeeemmm
. Até o teclado deita fumo!! Minhas amigas, vamos ser mais peace and love!! Afinal de contas estamos todas juntas, no mesmo local, nos mesmos dias, nas mesmas horas, com os mesmo amigos
Porque não sorrir de vez em quando em vez de nos olharmos de alto abaixo para ver se já crescemos uns cms! Prós lados claro!! Com sorrisos, tudo se torna mais simples!
VII
- Então, como se sente?
- Bem
Despedi-me.
- E já começou a procurar alguma coisa?
- Já.
(
)
- E acha que esses complexos surgiram por causa dos namorados?
- Não
Acho que não. Sempre fui um bocado assim.
- Mas porquê? O que é que não gosta em si?
- Oh! Não vou dizer
- Então! A mim pode dizer.
(silêncio)
- É tão bonita! Tem uma beleza tão invulgar.
- As pessoas dizem que eu sou bonita
e às vezes até começo a acreditar!
(risos
)
(
)
- Mas tem medo de adormecer?? E de acordar?! Ora explique-me lá isso.
- Não sei explicar. Eu sinto medo
é difícil para mim transpor em palavras exactamente o que sinto. Tenho medo de adormecer porque tenho medo de perder algo
não sei mesmo explicar!
- Mas isso é medo da morte!
- Sim, tenho muito medo de morrer. Nunca perdi ninguém próximo e desde que perdi acidentalmente a minha cadela, que penso imenso nisso
na morte.
(
)
- Sim, continuo a pensar nele mas de um modo diferente. Às vezes acho que nem gosto dele; que já é mais uma obsessão. Uma luta interior que criei em que quero que ele seja meu
não sei.
- Pois, pode ser!
- E sei que ele tem outra pessoa, apercebi-me e ver que ela é tão diferente de mim, e para pior, só me dá força
Não sei explicar.
(
)
- Vá, agora concentre-se em procurar trabalho
E nada de angústias.
(Sorrio)
- Vamos marcar a próxima visita. Agora tem tempo né?
(Risos)
- Sim
Agora tenho todo o tempo
(
)
(próximo capítulo publicado dia 23/04/05)
Aquela borboleta
Queria voar
Pousar numa flor
Para a poder cheirar.
Aquela borboleta
Queria crescer
Ganhar grandes asas
Queria viver.
As asas cresceram
A borboleta voou
E na flor pousou
A borboleta cresceu
As asas caíram
E tão breve morreu.
Alguém: queria tanto que ele me quisesse muito
mas não sei se isso vai acontecer.
Eu: eu já não quero nada dessas merdas, já não quero que me queiram muito
prefiro que me queiram aos poucos! E no fim, aí sim, que me queiram muito
Alguém: pois, mas eu queria estar no fim.
Eu: quero que comecem devagarinho, devagarinho
sem aproximar o final; sem aproximar a dor da despedida
sem aproximar o último adeus
o último virar de costas
quero que me queiram muito
mas aos poucos.
Alguém: pois, mas que queria que ele me quisesse muito
já estou farta do quer e não quer.
Eu: mas não adianta que ele te queira muito para depois não te querer mais
não queiras que ele te queira só porque tu queres! Pede para ele querer mais do que tu!
Alguém: pois mas mesmo que me queira aos poucos nada me garante que me vai querer sempre. Queria que ele acordasse e pensasse para mim é aquela a miúda ideal
a qual com quem eu consigo ser eu
e me divertir
e TUUUDO com ela!
Eu: eu entendo-te
mas hoje acho que isso não chega
só isso
Alguém: pois
como eu entendo também isso.
VI
Já não me sinto louca. Resolvi alguns cernes das minhas questões. Adormeci assim a minha loucura. Agora sinto-me feliz. Sinto-me aliviada e quero aproveitar o momento. A angústia vai batendo à porta mas finjo que não a ouço. O meu amor também passeia pelo meu pensamento. As dúvidas, as incertezas, o não saber se quero ou se não quero,,, mas eu finjo que está tudo bem.
Sinto-me calma. Sem vontade de chorar. Mas confesso que temo o regresso à loucura. O regresso da dor
A dor volta sempre às nossas vidas. Faz parte do nosso crescimento mas
aquela dor mortal, que nos vai destruindo
essa eu não quero sentir outra vez
(Dás-me um abraço? Queria tanto um abraço teu!)
Às vezes o meu maior problema é confiar demais nas pessoas Não consigo aprender! Quando vou aprender a deixar para trás a inocência? Que horas são? Ai ai tenho que ir
(Próximo capítulo editado dia 14/04/05)