"Somos infalíveis na nossa escolha de amantes, particularmente quando precisamos da pessoa errada. Existe um instinto, uma força magnética ou antena que busca o inadequado. A pessoa errada é obviamente certa para determinadas coisas... Para nos punir, oprimir ou humilhar, para nos desiludir, abandonar ou, pior ainda, para nos dar a impressão de não ser inadequada, mas quase certa, mantendo-nos assim presos no limbo do amor. Não é toda a gente que é capaz de fazer isto?"
in, Meia Noite Todo o Dia
Hanif Kureishi
Dói(-me) Dói(-me) muito! Não consigo suportar. NÃO, NÃO! Não posso chorar mas as lágrimas começam a forçar a saída e começo a perder a força para as empurrar.
Porquê? Porque dói, tanto assim?
Oh dor! Oh mágoa! Sai de dentro de mim! Ainda ontem estavas tão longe! Porque voltaste?
Dói Dói muito Não consigo suportar!
Tenho medo Não me deixes só Tenho medo de mim e da dor que não tem fim
Lembras-te quando passavas suavemente a mão nos caracóis loiros do meu cabelo e me sussurravas Eu estou aqui, não te vou deixar cair
?
[O meu cabelo é negro como a noite e liso como uma folha de papel
]
Lembras-te quando o teu olhar esverdeado se fundia com o meu azul e proferia Quero-te tanto
Fica comigo esta noite!?
[Os meus olhos são castanhos como o Outono
]
Lembras-te quando a tua língua vagueava as linhas do meu corpo e me dizias Esse teu corpo deixa-me maluco!?
[As linhas do meu corpo distorceram-se no tempo com o excesso de peso
com o excesso dos anos
]
Lembras-te quando éramos nós e me dizias Vamos ficar sempre assim!?
[Nós não éramos nós, éramos nós e as nossas circunstâncias
]
Afinal, quem és tu? Quem é ela? Porque não era comigo que falavas
não era a mim que amavas
Chorar,
chorar, lágrima,
lágrima, sal,
sal, mar,
mar, vasto,
vasto, sentimento,
sentimento, coração,
coração, mágoa,
mágoa, dor,
dor, amor,
amor, tu,
TU, Tu, tu...
Tu, amor,
amor, dor,
dor, mágoa,
mágoa, coração,
coração, sentimento,
sentimento, vasto,
vasto, mar,
mar, sal,
sal, lágrima,
lágrima, chorar,
CHORAR, CHOrar, chorar...
Fechei os olhos e reli
As cartas que nunca te escrevi
Fechei os olhos e senti
Os momentos que nunca vivi
E é assim que te entendo,
que te busco, que te alcanço
É assim que te procuro,
que te encontro e te amanso
E se não fossem as cartas
que nunca te escrevi,
jamais saberias
o que sinto por ti
Vamos fazer amor!
Vamos fazer O amor!
Que os nossos corpos se fundam uma vez mais,
Que os nossos cheiros se entrelacem de novo,
Que a tua respiração abafe o meu olfacto,
e o teu sussurrar se transforme no meu tacto!
Percorre todos os milímetros do meu rosto!
Percorre-me a mim
Percorre todos os poros da minha pele!
Percorre-me a mim
Percorre todos os fios de cabelo, todas as linhas do meu corpo, todos os gestos que eu faço
E beija-me!
Beija-me na boca,
Beija-me nos seios,
Beija-me no ventre, nas pernas, nos joelhos
Beija-me!
Vamos fazer amor
...Uma vez mais que seja!
Sexta-feira, fim de tarde. De regresso a casa enfrento um mar de trânsito e, na ânsia de chegar, tento furar por todas as lacunas que surgem no caminho. Sinal vermelho! Merda! Tenho que parar Olho para o carro que pára ao meu lado, um BMW cinza prata, e eis que o condutor me diz olá .
Até aqui tudo bem
Se o gajo não tivesse idade pra ser meu avô!!!
Que karma! É que vocês não imaginam! Tudo o que pertence à geriatria, ao clube dos papás, ao Lar da Paróquia de Cu de Judas de Cima, mete-se comigo! Posso estar eu e mais um rancho de amigas que os estupores dos velhos metem-se comigo! Mas que raio é isto? Tenho ar de Lolita e ninguém me disse nada? Chega a ser desesperante! Apetece-me virar pra eles e dizer: - Ouve lá ó cota, achas mesmo que vais levar alguma coisa daqui? Ta foda! Ganha mas é juízo!!
Não sei se vos acontece o mesmo mas é que onde quer que eu vá, a história repete-se
Avozinhos, deixem lá as miúdas em paz (sim, porque gajas da minha idade pra vocês, não passam de miúdas!) e procurem alguém de bengala que vos ajude a empurrar a cadeira de rodas!!
Este quarto cheira a sexo!
Deixem entrar o ar!
Este quarto cheira a sexo!
Não consigo respirar!
Porque cheira a sexo este quarto?
Será das roupas do chão?
Dos poros da nossa pele?
Ou será minha ilusão?
Ou talvez tua? Ou até dele!
Este quarto cheira a sexo!
Deixem entrar o ar!
Este quarto cheira a sexo!
Não consigo respirar!
Serão as memórias refusas?
Serão as esperanças incertas?
Ou serão as nossas tusas,
Que nos levam às descobertas?
Este quarto cheira a sexo!
Deixem entrar o ar!
Este quarto cheira a sexo!
Não consigo respirar!
Será a vontade de amar?
O desejo de tocar?
Será a ilusão do olfacto?
Que nos adultera o respirar?
Este quarto cheira a sexo!
Deixem entrar o ar!
Este quarto cheira a sexo!
Não consigo respirar!
O que será eu não sei,
E não faço questão de saber!
Este quarto cheira a sexo,
E não esteve ninguém a foder!
Acendi um cigarro (detesto tabaco!) e peguei na garrafa de whisky que estava onde a tinhas deixado
(odeio whisky!)
Nem sei porque acendi aquele cigarro
Talvez tenha sido para queimar o tempo
o copo pejado de whisky é fácil de perceber
serve para afogar as mágoas
"... embora todos nasçamos com uma caixa de fósforos no nosso interior, não os podemos acender sozinhos, precisamos, como na experiência, de oxigénio e da ajuda de uma vela. Só que neste caso o oxigénio tem de vir, por exemplo, do hálito da pessoa amada; a vela pode ser qualquer tipo de alimento, música, carícia, palavra de som que faça disparar o detonador e assim acender um dos fósforos. Por momentos sentir-nos-emos deslumbrados por uma intensa emoção. Dar-se-á no nosso interior agradável calor que irá desaparecendo pouco a pouco conforme passa o tempo, até vir nova explosão que o reavive. Cada pessoa tem de descobrir quais são os seus detonadores para poder viver, pois a combustão que se dá quando um deles se acende é que alimenta a alma de energia. (...) Se uma pessoa não descobre a tempo quais são os seus próprios detonadores, a caixa de fósforos fica húmida e já nunca poderemos acender um único fósforo."
in, Como água para o chocolate
Laura Esquível