Quarta-feira, 15 de Setembro de 2004

Amigas



“Só conhecemos as coisas que prendemos a nós (…). Os homens, agora, já não têm tempo para conhecer nada. Compram as coisas já feitas nos vendedores. Mas como não há vendedores de amigos, os homens já não têm amigos. Se queres um amigo, prende-me a ti.”
in, O Pincipezinho

Hoje cheguei à conclusão que as amigas conseguem ser muito complicadas… ou não fossem elas mulheres! E qualquer mulher que se preze, é complicada por natureza! Dissertei até ao mais exíguo pormenor os vários tipos de amigas que podemos possuir e descobri umas quantas! Então temos, as falsas amigas (que é o que mais há por aí), as amigas de ocasião (que só aparecem quando lhes convém), as amigas anuais (que só falamos com elas de ano a ano mas acabamos por gostar muito delas e sabemos tudo uma da outra), as amigas inconvenientes (que são boas pessoas mas que não confiamos necessariamente nelas porém, possuem um dom qualquer que quando damos por nós já lhes contamos toda a nossa vida) e as melhores, as inseparáveis, aquelas que qualquer mínima coisinha que aconteça, temos que lhes contar rapidamente e, em contrapartida, ao mínimo acto adverso que tenham para connosco sentimos o espetar de uma lança mesmo no centro do coração, e jamais o esqueceremos… Depois há aquelas tantas outras amigas que têm um papel tão insignificante na nossa vida (e digo isto sem desconsiderar ninguém!) que nem vale a pena falar nelas!
Então aqui vamos nós…
As falsas amigas são as que mais existem por aí! Se não, de quem é que falaríamos mal quando nos juntamos com as melhores amigas? Sim está bem, poderíamos falar mal dos homens, mas isso também já fazemos!! Além do mais não seria a mesma coisa! Porque aqui entre nós, quando falamos mal deles é da boca pr’a fora… no fundo, sabemos que vamos sempre perdoá-los (ou não!!) e isso já não acontece com as falsas amigas. Em todo o caso, estes espécimes que se denominam de amigas conseguem ser muito perigosos… É que por vezes conseguem representar tão bem que chegamos mesmo a acreditar que podemos confiar nelas… Cuidado, tenham muito cuidado! São umas feras disfarçadas de gatinhos domésticos… À mais minúscula oportunidade, atacam a presa!
As amigas de ocasião, são aquelas que no fundo nem podemos apelidá-las de amigas! São aquelas coisas que aparecem de vez em quando e, por incrível que pareça nunca é para nos oferecer alguma coisa; muito pelo contrário, é para pedir! Para chatear! Para desabafar… Só aparecem para nos usarem, são quase piores que os homens! E podem aparecer por milhentos motivos! Por exemplo porque não têm ninguém para sair e lembraram-se de nós, porque precisam de passar a Anatomia e souberam que temos os apontamentos mais cobiçados da faculdade ou, simplesmente, porque o cão adoeceu e, como temos um primo que é um amigo de um amigo de um veterinário, lá vem a úlcera ambulante cravar-nos o veterinário (que nós nem sequer conhecemos e que obrigatoriamente acabamos por ter que ficar gratas e em dívida para o resto da vida!) e, como se isso não bastasse ainda temos que as levar lá porque além de elas terem vergonha de irem lá sozinhas, o pai das excelências precisou do carro sabe-se lá para quê e as princesas não têm como chegar até lá!! Então, lá saímos nós do conforto do lar para ir até cu do judas à direita, levar o cão de uma gaja que se intitula nossa amiga quando lhe convém, encher o carro de pelo do bicho que não vê água desde que o rio Túria secou e ficar grata a um gajo que nunca vimos na vida mas que por acaso temos um conhecido em comum… Bem, fujam destas! Só aparecem para chatear…
As amigas anuais são aquelas que conhecemos desde que nos cresceram as mamas mas, sem sabermos ao certo porquê, nunca tivemos com elas aquela relação siamesa, em que para onde vá uma, vai a outra. Tipo, usarmos o mesmo cérebro para qualquer uma das nossas acções capice? E não foi porque não nos demos bem ou porque tenhamos algo a apontar, foi simplesmente porque nunca aconteceu! Porém, sentimos um carinho tão grande por estas amigas que quando estamos com elas (de ano a ano!), contamos toda a nossa vida uma à outra; chegamos inclusive a revelar segredos que nem às nossas melhores amigas revelamos. Estranho não é? Mas acreditem que isso acontece! Se pensarem bem descobrem praí duas amigas cuja relação é exactamente assim! E no fundo até é uma relação muito saudável! Isto porque como elas nunca estiveram presentes diariamente, não caímos no erro de as criticar quando elas num momento menos bom da nossa vida não nos deram colinho (como fazemos com as nossas melhores amigas…). Sabemos que elas vão estar sempre lá… Basta telefonar. E ninguém exige nada de ninguém. Relação pura e saudável! Como os casamentos! Ah ah ah… Piadinha do dia “quelaro”!
Temos ainda as amigas inconvenientes… Não sei se inconveniente será o adjectivo mais correcto porque, quando digo que elas são inconvenientes, é no sentido em que são aquele tipo de amiga que até gostamos muito, temos estima por elas, mas não as procuramos nem para rir nem para chorar. Comunicamos apenas que vamos casar (e algumas até conseguem ser convidadas!), comunicamos que vamos ser mães, comunicamos que vamos mudar de casa (e aquelas que tiveram no nosso casamento também estarão no jantar de inauguração do novo ninho do amor), comunicamos que subimos de posto na empresa, etc… E a parte do inconveniente vem, na minha opinião, porque estas amigas, no fundo, até acham que são muito importantes na nossa vida (e têm a sua importância coitaditas!) e então, quando calham de estar connosco, querem saber tudo o que se passa e o que não se passou, mesmo nós não querendo contar, e elas possuem um dom de persuasão qualquer que quando damos por fé, já contamos toda a nossa vida e, mais grave ainda, até estamos a pedir um conselho!! Mas que raio de poder possuem estas catraias que nos tiram as palavras da boca que nem manteiga a derreter ao lume… Rápida e eficazmente!
Por fim temos as amigas inseparáveis, as que chamamos de melhores amigas, aquelas que acreditamos que vão estar sempre lá, aquelas que riem e choram connosco, que sofrem connosco, que matam e esfolam por nós, que dizem que nunca nos abandonarão e, muitas vezes, quando fechamos os olhos, elas já desapareceram sem deixar rasto…
Pois é, na minha humilde opinião (porque eu sou uma haja que gosta de alvitrar!), estas amigas diversificam-se em vários ramos. Aquelas que por muito que se afastem acabam por estar sempre lá e consideram-nos igualmente “a sua melhor amiga” e, nesses casos, somos nós que as destituímos desse título devido ao seu afastamento. E, quando esse afastamento surge, a resposta é só uma: as gajas desencalharam! As gajas desencalham e passam a marimbar-se para a melhor amiga! Aí, só se lembram de nós quando precisam de chorar ou então quando o Nando foi jogar futebol com o resto da malta e, como está a chover e elas não querem ver o jogo à chuva, lembram-se que algures na adolescência costumavam ter uma amiga inseparável; e é aí que nos ligam para combinar qualquer coisa que não dure mais que um jogo de futebol entre casados e solteiros! Que tristeza…
Temos ainda aquelas que eram realmente grandes amigas mas, por solavancos da vida, cortamos relações e juramos a nós próprias, a todos os santos e virgens santíssimas que jamais as perdoaremos (mas que no fundo, se elas vierem a chorar baba e ranho, acabamos por passar a mão na cabecinha e dizer que tudo vai ficar bem porque nós estamos lá para as ajudar…. Ou não!). E perguntam vocês porque é que as relações foram cortadas! Vá… Perguntem lá! Pois é caros amigos, as relações foram cortadas porque estas cabras bípedes, em cinco minutos conseguiram revelar aquilo que realmente são e, nesse escasso tempo, mostram a raiva acumulada, raiva essa que pode levar anos a fio… e nós só queremos é desaparecer, chorar durante horas e lamentar o porquê disto ter acontecido…
Por fim temos aquelas que realmente estão lá sempre… Que por muitas zangas que haja, a amizade continua sólida como o Grand Canyon! Seja que horas forem, elas vão estar lá de lencinho numa mão e copinho de leite na outra só para nos acalmarem numa altura menos boa! E se estamos bem, elas vão calçar as botas mais confortáveis que tiverem, vão-nos buscar a casa e levar-nos ao bar mais próximo da cidade e aí bebemos Bacardi Lemon (com sumo de limão claro!) até cairmos pró lado! São estas as amigas de verdade… Raras mas que ainda se encontram! Por isso, se possuírem alguma, tratem-na com carinho.
Não podia ainda deixar de falar nas nossas mamãs… que por muito que achemos que elas só sabem pegar no nosso pé e chatear, elas só querem o que de realmente melhor existe para nós… E os anos vão passando e nós continuamos com dificuldade em ver isso. Chegamos cansadas a casa do trabalho ou faculdade ou escola ou o que quer que seja mas, se for para ir a casa do namorado dar um beijinho e um abraço temos paciência, mas esquecemos que a nossa mãe anseia todos os finais do dia por um beijinho e um abraço nosso porque chegamos a casa tão cansadas e sem paciência para tal coisa que nem reparamos que elas passaram o dia todo à espera que esse momento chegasse. Vamos ser mais observadoras e ver que as nossas queridas mamãs contentam-se com pouco e essas sim, vão estar lá para todo o sempre, ainda que o sempre não exista…

publicado por missantipatia às 20:48
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