Finalmente tive vontade de publicar o último capítulo...
XII
Completou um ano. Um ano que embarquei nesta loucura, na ilusão de que ia ser feliz. Fui feliz
é verdade! Mas fui feliz às prestações. E pagava os momentos de felicidade com lágrimas; lágrimas que nasciam por essa felicidade ser tão volátil, tão madrasta, tão
. puta!
Sofri o que jamais achei que seria capaz de sofrer
o sofrimento do amor faz nascer outros sofrimentos
Tornei-me frágil e tudo me foi atirando para esta loucura. Agora, passou um ano e eu estou feliz de novo. Consigo olhar para trás e admirar com saudade os bons momentos que passamos. Ajudaram-me a crescer como pessoa e foram bons a seu tempo.
Agora, que passou um ano, consigo olhar novamente nos teus olhos sem dor, sem rancor, sem angústia.
No fundo sei que não me mereces! Sou demasiado boa para ti
Foste muito importante para mim e vai ser assim que te recordarei. Mas agora, agora deixo este diário inacabado, sem saber o que virá depois. Dizem que os diários não devem ser acabados pois isso significa o fim da vida e a minha ainda mal começou
Por isso, agora que já não me sinto louca, não vos digo adeus
digo-vos apenas um até breve! Nem que o breve seja eterno
Até breve!
XI
Durante a tarde aquela música que foi outrora especial e agora, proibida de ouvir pelo meu coração, não me saía da cabeça..
(Tomorrow is just another day
)
A tarde estava triste. O céu vestiu-se de cinzento e a chuva, por ser fim de semana, resolveu aparecer.
Acordei tarde hoje. Dormi seguido como já não acontecia há algum tempo. Acordei bem disposta e descansada.
(Theres no one around me, wanting me
)
Ao fim do dia, resolvi tomar um banho mais demorado. Apeteceu-me cuidar de mim.
Escolhi a roupa para o jantar, a lingerie e, não sei porquê, lembrei-me dele
(Do you want a piece of mine, tell me
)
Arranjei-me e, até sair de casa, tratei de organizar as minhas coisas.
O jantar correu bem.
Em seguida, sítio do costume, pessoas do costume,
e ele claro!
Sinto que não sinto nada. Estranha confusão de sensações; mas creio que é fácil entender.
Já não choro quando ele é arrogante, já não me entristece saber se ele namora
nada.
Trocas de olhares discretos e sociais.
Mais tarde, troca de palavras. Curtas, simples e sem jeito.
Mensagem minha.
Telefonema dele.
Encontro.
Acontece.
Vem o arrependimento dele.
Vem a minha satisfação por saber que ele não mudou.
(You know and I know enough to understand
)
Namora, ela é especial e ele fica comigo uma noite? Numa cama? Num hotel? E depois ainda diz que ele não é assim
Aiiii
. Conheço-o tão bem! Soube-me tão bem!
Senti que o usei. Disse-lhe inclusive que ele me usou mas que eu também o usei.
Namorar? Pra quê?
Continuo na fase de luto.
Não quero ninguém quero alguém que ainda é ninguém
(Tell me why...)
Cão, queria ser cão!
Podia ter pelo curto, pelo comprido
Ou até pelo lambido,
Claro, escuro ou malhado
Mas queria ser um cão danado!
Cão, queria ser cão!
Correr atrás dos pássaros,
Saltar para o meu dono,
Dormir a todas as horas,
Mesmo naquelas em que não tenho sono!
Cão, queria ser cão!
Ter o faro apurado,
Ter o instinto animal,
Que te leva a todo o lado
E jamais te deixa mal.
Cão, queria ser cão!
Apenas cão.
Como tu!
X
Sinto-me bem. Estou rodeada de estranhos. Uma sala de espera fria e feia. Cheia de cadeiras que nos tiram o espaço para circular, uma televisão sem som que ninguém olha, revistas puídas pelos anos que ninguém lê e umas fotografias que se exibem na parede na esperança que alguém as aprecie com olhos de ver
Anteontem estava triste, muito triste. Ontem já parecia uma pessoa nova. Ainda não consigo controlar estas mudanças humorais e muito menos perceber o porquê deste viajar de estados.
Hoje acordei bem disposta. É 6ª feira. Mas creio que nem é isso que me faz sentir bem. Nem sequer tenho tido aquele síndrome do nunca mais é 6ª!. Acordei bem. Calma. Simplesmente isso.
Já não me custa trabalhar. Gosto do sítio onde estou. Ainda não sei se fico lá mas pelo menos vou aproveitando enquanto lá tenho que estar.
Hoje vou a outra entrevista. Surgiu assim de repente e como ainda não me deram certeza se fico onde estou não tenho nada a perder.
Aiii
Nunca mais chamam por mim! Ainda só vai no 12
e eu sou o 26!
Sinto-me calma como já há muito não me sentia. Ando com sede de aprender coisas novas
coisas que desconheço, coisas que nada têm a ver com o meu dia a dia, com a minha profissão
Estou a mudar aos poucos o meu habitat natural
O natural já não me agradava então, como qualquer Homem, altero aos poucos este natural pouco feliz. Só nós é que temos esse poder não é?
Olha, vai ali a psicóloga
Tenho que ir
Optei
Bastantes vezes
Sujeitar-me a
Efémeros momentos
Sofrendo em
Silêncio e
Assim,
Omitir o meu sentir.
Dentro de cada
Encontro
Tracei
Etapas que nunca
Terão sido atingidas
E assim fui sofrendo e
Rezando para que fosses meu
Shhh
Não faças barulho.
Adormeci o meu coração
Shhh
Não faças barulho.
Não acordes de novo a ilusão
Deixa-me sorrir sem lágrimas,
Deixa-me amar sem dor,
Deixa-me gritar ao céu
O nome do meu amor
Shhh
Não faças barulho.
Já ninguém sabe de nós
Shhh
Não faças barulho.
Deixa-me ouvir a tua voz
Deixa-me tocar-te na mão,
Deixa-me beijar-te o coração,
Deixa-me amar sem receio,
Deixa-me abraçar-te por inteiro.
Shhh
Não faças barulho.
Não me acordes do meu sonho.
Shhh
Não faças barulho.
Não me digas que acabou
Shhh
Shhh
Shhh
IX
Tento soltar as cordas imaginárias que traçam os meus pulsos impedindo o sangue de correr. Não quero mais estar agarrada a esta ilusão que criei.
Os sentimentos destroçaram o meu coração; cortaram-no aos pedaços, como se fossem facas afiadas prontas a laminar.
Procuro a semântica do teu sentir
Não a encontro. Tento perceber a força do meu sentir
Não consigo.
Restam-me as memórias escondidas no fundo de mim. Resta-me fechar os olhos e recordar os momentos que foram nossos
Já nem sei se faço bem em fechar os olhos. Esses momentos apertam-me o coração impedindo-o de bater
Esta atrofia cardíaca envenena-me a alma e liberta o meu chorar.
Tenho que guardar as memórias no recanto do meu ser, deixar o pó tomar conta delas e, quando conseguir libertar o coração aí sim, poderei recorrer às lembranças com um sorriso
Sem deixar o choro nascer, sem deixar o coração parar de bater, sem te deixar reaparecer
Emoções que se atropelam,
Sentimentos que se descalçam,
Para assim fugirem rápido.
Ilusões que se envergonham de aparecer.
Trocas de olhares.
Olhares que se trocam,
Olhares que procuram olhares.
Olhares que atropelam olhares.
Olhares que falam,
Olhares que calam,
Olhares vazios
Vazios, vazios, vazios,
Vazios
Vazios como eu.
Como tu.
Como nós.
Como eles que não são como nós,
Como eles que são como nós,
Como quem não sabe quem é.
Quem foi.
Quem será
Quem será
quem será
E esse vazio
Que me mata,
Destrói,
Corrói,
Desgasta,
Me torna nefasta.
Como esse vazio que é podre.
Podre, podre, podre
Podre como eu.
Como tu.
Como nós.
Como eles que não são como nós,
Como eles que são como nós,
Como quem não sabe quem é.
Quem foi.
Quem será.
Volta.
Volta.
Volta.
Os sentimentos estão confusos.
Baralhados,
Descoordenados
Perdidos.
Perdidos de mim
e de ti.
Por isso já não somos nós.
Por isso somos eu e tu.
Ela abraça-o forte
como se não o quisesse deixar fugir
Ele passeia com as mão pelo dorso dela e diz:
- Confesso que já tinha saudades
- Hã? (interroga ela levantando a cabeça e fingindo que não ouviu)
- Já tinha saudades
Ela sorri, abraça-o ainda mais forte e pensa: Eu sabia!
Dei cor aos meus sentimentos:
Pintei o amor de vermelho claro!
De azul a ilusão,
De amarelo a angústia
Que me consome o coração.
Pintei a raiva de roxo
Não me perguntem porquê!
Dei à tristeza a cor cinzenta,
Porque assim mal se vê!
Como acho o verde bonito,
Também lhe quis dar um sentimento,
De repente soltei um grito,
E atribui-lhe o tormento!
Restava-me ainda o branco,
O cor-de-rosa, o jasmim
E o preto andava perdido,
Pois não se encaixava em mim.
Quando a chuva me tocou,
Toda a cor se misturou.
Virei uma nódoa negra,
Que o tempo desgastou.
Agora sinto-me cinzenta,
Mas de um cinzento bem escuro
Porém estendi as mãos
E vi que o vermelho continuava puro!